“Mas porque é que isto me estava a acontecer? Porque é que as coisas não estavam a ser resolvidas no tempo suposto? Eu não tinha tempo para esta situação!”
Estes eram os pensamentos que vagueavam na minha mente naquela altura. Na época em que andava à procura de respostas para ajudar o meu filho. Eu não tinha tempo para aquilo. Eu não tinha tempo para perceber o que se passava com o meu filho. Eu não tinha tempo para entender o porquê daquela situação me deixar tão fora de mim. Eu não tinha tempo para saber como não me saltar a tampa com ele. Eu não tinha tempo para aprender a aceder a outros recursos. Eu não tinha tempo!
Eu percorri quilómetros, despendi de MUITO TEMPO, consultei muitos especialistas e especialidades, muito dinheiro em consultas mas não tinha tempo.
Não tinha tempo para … olhar para mim.
Não tenho por hábito ver televisão mas ontem dei por mim completamente vidrada num programa de concurso de música, não sei como se chamava, era parecido com o dos “Ídolos”. Amo música e adoro ver pessoas a lutar pelos seus sonhos. Mas não foi com isso que fiquei emocionada, foi sim com as histórias familiares dos vários concorrentes, de como era importante para todos o apoio e o acreditar da família no seu valor. Foi comovente perceber o impacto que as mensagens da família têm no alcançar dos seus sonhos. Ontem ao assistir ao programa dei por mim a alcançar o verdadeiro valor da frase de uma psicanalista muito reconhecida que estou a estudar no âmbito do curso de Terapia Familiar que estou a frequentar, Virgínia Satir, que é: ao curarmos as famílias podemos curar o mundo. Gostava muito que conhecessem esta senhora. Foi mais de que uma terapeuta, foi uma promotora da paz no mundo. A partir deste microcosmo, da família, acreditava que o mundo podia alcançar a paz. Ontem chorei ao assistir ao dito programa, ao observar de como é importante o apoio da família para o alcançar da nossa felicidade. O como é potenciador aceitarem e acreditarem em nós, o como podem ajudar-nos a expandir todo o nosso potencial … ou não.
O mundo de hoje não é amigo das famílias. O mundo de hoje não tem tempo para as relações. “Não tenho tempo”, é o que mais oiço. Não é o momento certo para cuidar da minha família porque existe sempre algo que se torna prioritário. Mas será que há algo realmente mais importante do que cuidar das relações com os que nos são mais próximos? Mas eu compreendo esta resistência, eu sei o que é isso, eu vivi isso. Durante muito tempo existiu sempre algo que se colocou à frente do meu bem-estar, da minha família, do relacionamento com o meu filho.
Virgínia Satir, a terapeuta familiar que mencionei, dizia que para curar as famílias existia um aspecto muito importante a ser olhado e trabalhado na mesma: a autoestima de cada um dos seus elementos. Ela acreditava que um dos fatores mais importantes para sanar as famílias era devolver a cada um a consciência do seu valor. E depois do caminho que percorri até agora acho que não pode ter mais razão. Eu dependia do desempenho (escolar, comportamental) do meu filho para ter uma boa autoestima. Se ele tivesse um bom desempenho e comportamento, ai sim, era uma boa mãe com uma boa autoestima. Quão enganada estava… Claro que isto era inconsciente para mim na altura mas consegues alcançar o impacto que isto tinha no meu comportamento para com ele, a pressão que exercia, a resistência que fazia à sua essência, o que contribuía para a criação de … uma autoestima debilitada…. Consegues perceber o quanto isto condicionava a mãe que era e o filho que tinha? E como isto bloqueava o expandir de todo o seu (o nosso) potencial?
Consegues imaginar como seria o mundo se todas as pessoas achassem que têm valor pelo que são, independentemente do que fazem ou têm? A sério, imagina…
Será que existia guerra, violência, bullyng, abuso, e por ai fora?
Não pode existir nada mais importante do que sabermos que temos valor, que merecemos ser vistos, ouvidos, atendidos, amados. Não pode, pois não? A autoestima é a nossa bóia de salvação para os momentos mais desafiantes da nossa vida. Saber que temos valor e que somos capazes é tão libertador. Claro que podemos construir e fortalecer a nossa autoestima ao longo da vida mas, sem dúvida, que chegamos mais rapidamente aos nossos sonhos se os nossos pais nos passarem desde tenra idade esta mensagem: Tu Vales!
Mas eu compreendo. Houve uma altura da minha vida que não tinha tempo: era a carreira, o dinheiro para sustentar a família, o medo que me despedissem, o medo que o sistema em geral sabe, de uma forma muito inteligente, alimentar dentro de nós que nos impede de ter tempo para o que realmente precisa de tempo. Até que o meu filho começou a ter questões que me começaram a preocupar, até que o meu filho começou a ter problemas que não estavam a ser resolvidos no tempo que o sistema imponha.
Quando me aquietei, quando me enraizei, percebi – o maior exemplo que posso dar ao meu filho é este: uma autoestima saudável. Esta é a maior herança que posso deixar ao meu filho. E começa comigo, com a minha autoestima. Virgínia Satir tinha razão: uma família em que os seus membros têm uma autoestima saudável pode mesmo curar o mundo!
Podemos dar tudo aos nossos filhos mas se não gostarem de si tal como são, achas que podem alcançar os seus sonhos? Por isso pergunto-te (de coração aberto): existe algo mais prioritário do que isto, do que a tua família, do que o teu filho, do que a vossa autoestima?
Um dia disse – Basta. Um dia comprometi-me com o que realmente era mais importante. Um dia tive tempo. Esse dia foi o dia que se abriu o caminho mais importante: começar a acreditar no meu potencial e, por consequência, a expandir o do meu filho.
Um dia percebi que o mais prioritário da minha vida era eu, era a minha família, eram os meus filhos!
Hoje descalça os sapatos, enfia os pés na terra, aquieta a tua mente e pergunta-te: o que existe de mais importante na minha vida?
A verdade inconveniente é que – um dia despertei – não havia falta de tempo, existia sim medo. Medo de olhar para mim, para nós, com olhos de ver.
A verdade inconveniente é que existia uma criança assustada a precisar de amor que eu não queria olhar. E não era só o meu filho, era também a minha criança.
Mas eu digo-te: não tenhas medo, esta viagem é uma viagem tão bonita e empoderadora que podes dar a volta ao mundo e não conseguirás ter a mesma experiência. Por ti, pelo teu filho, pela tua família permite-te redescobrir o Amor que és, permite-te desvendar o Amor que são.
Eu sei que a tua mente vai sempre encontrar maneiras de arranjar desculpas e dizer que não tens tempo mas aquieta-te, põe os pés – literalmente – na terra, e liga a mente ao coração: que mensagem ouves? É por ai o caminho, não tenhas medo.
Fica com esta música para te conectares com o que é mais importante:
Se quiseres dou-te a mão, estou aqui: carlapatrocinio33@gmail.com
Um abraço da tua Coach Parental,
Carla Patrocínio
Mesmo verdade.. Sentimo-nos velhos e sempre com mil coisas para fazer. Adorei o testemunho.