Eu não queria que o meu filho tivesse qualquer tipo de limitação. Eu não queria que o meu filho tivesse nenhum comportamento desadequado. Eu não queria que o meu filho…. Eu não queria que…
A verdade? Eu queria que o meu filho fosse perfeito!
A vida é sábia e trouxe-me um ser que me desafia todos os dias a ser a melhor versão de mim própria. Na altura, não tinha consciência deste facto, simplesmente resistia ao que se apresentava. Então fazia muitas birras. Eu é que fazia birras, não ele!
E ele? Bem… ele não podia fazer birras, não podia questionar as minhas ordens, não podia fazer e ser …na verdade, NÃO PODIA SER ELE… E acreditem que este “não poder” não significava que eu fosse uma mãe autoritária e que em casa existissem uma série de regras inflexíveis. Nada disso. Pelo contrário, sempre fui uma mãe simpática, até um pouco permissiva… mas exercia uma pressão. Uma pressão que não estava tão relacionada com regras mas sim com a minha energia. Uma energia que se expressava através da minha linguagem não verbal. Uma energia de ansiedade. E a verdade é que as crianças sabem ler o não-dito de uma forma que nós, adultos, já nos esquecemos.
O meu filho tinha que ser igual aos outros, desse por onde desse. E esta luta (para que ele fosse o que não era) criou um afastamento entre nós.
(Se não pudesses ser tu, o que farias? Ficavas impávida e serena? Pois…)
Já alguma vez conversaste contigo (de forma verdadeira, sem filtros) sobre a causa, a origem, da relação difícil com o teu filho? Eu fi-lo, num momento de grande sofrimento, em que não tinha mais saída, e o meu diálogo interno foi este:
– Porque sofres tanto com os comportamentos do teu filho?
– Porque … não o aceito.
– E porque não o aceitas?
– Porque … porque… (dor) ele mostra-me que não valho… na verdade … eu não me amo o suficiente para lidar com as suas limitações… fazem-me confirmar a minha crença que não sou suficiente, que não sou merecedora, que não sou igual aos outros…
– Mas tu és! O teu filho, através destes desafios, está a mostrar-te simplesmente o quão importante é cuidares de ti e amares-te.
Foi tão doloroso confortar-me com esta realidade… mas, na verdade, percebi mais tarde, naquele momento renasci.
Confesso que para chegar a este diálogo interno, a este despertar, tive de ter ajuda. Sozinha não consegui. O medo e a culpa apoderavam-se de mim e fugia constantemente. Tive que ter apoio para perceber que dentro de mim, para além da voz da culpa e do medo, existiam outras vozes que me podiam acompanhar neste processo doloroso: o amor, a compaixão, a bondade…
No momento em que ele foi diagnosticado com Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção percebi que tinha que optar por um caminho. O dilema (inconsciente) que ele me colocou foi: ou me desconecto de ti ou aprendes a amar-te sem dependeres de mim (do que eu faço, do que tenho, do que eu sou). Eu optei pela segunda. E tu?
Foi provavelmente a maior lição que o meu filho me deu até hoje, e nos momentos mais desafiantes que o meu filho me apresenta, é com este ensinamento que me conecto:
Ama-te Mãe!
Ama-te independentemente dos meus feitos
Ama-te independentemente dos meus dons
Ama-te independentemente das minhas conquistas
Ama-te independentemente do meu desempenho escolar
Ama-te Mãe!
O amor por ti não deve depender das minhas qualidades, dos meus talentos, das minhas notas, das minhas ações
O amor por ti deve ser à prova de qualquer momento desafiante que eu te possa colocar
O amor por ti não deve depender do que que possa fazer ou ter
Se não for talentoso a jogar futebol, deves amar-te na mesma
Se não tiver notas xpto, deves amar-te na mesma
Se não souber matemática como os meus colegas, deves amar-te na mesma
Se não for extrovertido como tu, deves amar-te na mesma
AMAR-TE DEVE SER A MAIOR PRIORIDADE DA TUA VIDA!
Ouves Mãe? Quero que te ames, que te escutes, que te vejas, que te acarinhes, que te cuides, que te aches merecedora!
Porque só assim podes olhar para mim a partir do amor que és
Porque só assim podes relacionar-te comigo em paz, livre das tuas feridas, das tuas crenças, …
PORQUE SÓ ASSIM PODES AMAR-ME INCONDICIONALMENTE
PORQUE SÓ ASSIM EU POSSO AMAR-ME VERDADEIRAMENTE
Ama-te Mãe!
Assinado: o teu filho
Na verdade, os nossos filhos não nasceram para nos irritar, para nos fazer sofrer. Não. Eles nasceram para nos fazer crescer, para nos reaprendermos a amar. A amar como somos, com tudo o que somos. Honremos então os nossos filhos com tudo o que são e estejamos atentas às suas lições empoderadoras.
Um exercício para ti – que te reveste neste artigo:
Retira um tempo. Está só contigo. Instala-te num lugar confortável onde possas estar descontraída mas atenta.
Fecha os olhos e leva a atenção ao teu coração … detém-te nessa zona e respira a partir desse local… Respira lenta e suavemente… Deixa que esse Amor Incondicional que existe dentro de ti se active… Se vierem pensamentos, deixa-os passar gentilmente e volta a focar a tua atenção na respiração do coração… A seguir, põe a mão no teu coração e sente os batimentos que acompanham essa respiração… O Amor por ti é o maior presente que podes dar a ti e ao teu filho… Sente esse Amor que és e que ninguém te pode tirar… Abraça-te, perdoando todas as culpas ou erros… Está contigo durante algum tempo e permite-te sentir a chama dessa intenção carinhosa para contigo mesma… Ama-te Mãe!
Ou me desconecto de ti ou aprendes a amar-te sem dependeres de mim (do que eu faço, do que eu tenho, do que eu sou). Eu optei pela segunda. E tu?
Se sentires que te posso ajudar envia-me um email para carlapatrocinio33@gmail.com.
Um abraço apertado da tua Coach Parental,
Carla Patrocínio