Escolha uma Página

Eram 6:30 da manhã quando fui acordada violentamente pelo barulho de uma bomba que acabara de explodir perto do hotel. O cenário de guerra, conforme anunciavam há dias, estava instalado. Tinha que me despachar. Miguel, o cameraman, esperava por mim. Apesar do medo sentia-me entusiasmada – hoje era dia de ir para o terreno e conhecer as gentes daquela terra. Os meus olhos brilhavam.

Era este era o meu sonho de criança. Ser jornalista. Essencialmente para conhecer a humanidade – as suas estórias, tradições, gostos, sombras, amores e sabores. Mas esta vontade acabou por não se cumprir. Verdade seja dita que, hoje em dia, seria incapaz de ir para um contexto destes. No entanto não foi por isso que este e outros sonhos foram aniquilados à sua nascença. Não. Foi porque era um sonho demasiado louco. Foi porque não era capaz. Foi porque não tinha competências. Foi porque não era merecedora. Foi porque dessa forma não me sustentaria. Foi porque era uma ideia parva. Foi porque a vida não era assim tão fácil como pensava. Já ouviram estas mensagens?. Na realidade, estas “inverdades” têm a intenção de nos proteger mas o que acontece é que, vindas da boca e dos olhos de quem nos ama, acabam por nos limitar: pois transformam-se em crenças e, mais tarde, em obstáculos à concretização dos nossos desejos mais loucos. Este e outros sonhos que surgiram ao longo da minha vida não os cumpri simplesmente porque acreditei naquelas palavras.

E passaram alguns anos em que segui o que era suposto, e até tive sucesso, mas faltava qualquer coisa. Até que um dia o meu filho mais velho, por portas e travessas, me despertou para o que me escasseava: era o brilho nos olhos.

Hoje em dia sou Coach Parental e o brilho voltou. Mas até chegar aqui foi duro: tive que desconstruir e questionar muitas das crenças que tinha e que me limitavam. E tudo começou no dia em que a minha criança disse em alto e bom som que queria ser jornalista de guerra e olharam para mim com aquele olhar: aniquilador de sonhos.

O sonho do meu filho é ser futebolista. Sempre que ele verbaliza este sonho os seus olhos brilham. Muitos me dizem que não devia alimentar essa fantasia. Porque há muitos meninos que querem ser futebolistas. Porque talvez ele não tenha o que é preciso. Porque ele poderá ter outros sonhos e não vale a pena perder tempo a investir neste. E por muitas outras razões. Mas eu não: eu alimento o seu sonho. Porque sei que todas essas razões são, na realidade, apenas medos – medos nossos, dos crescidos.

Durante uma consulta de acompanhamento familiar perguntava a um jovem de 13 anos qual era o sonho da sua vida. Ele respondeu-me que não tinha. Para ajudá-lo listei uma série de sonhos próprios da juventude (namorar, andar de moto, …) mas ele continuou a afirmar o mesmo. Inicialmente não percebi a razão da resposta tão vazia, dos seus olhos baços, mas o mistério resolveu-se poucos minutos depois com o comentário do seu pai: “ Talvez seja melhor ele não ter sonhos. A vida como está não dá para ter essas ilusões. Mais vale ele não sonhar para não sofrer deceções. É desnecessário.”

Sei que a sua intenção final deste pai até era positiva mas atentemos à mensagem: Não sonhes porque te podes dececionar. Quão triste, impactante e aniquiladora pode ser esta mensagem na vida de um jovem?. Não resisto a fazer de imediato uma analogia desta frase com outra: Não vivas porque podes morrer. É parecida não é?

Observo que existem umas pessoas que, tal como eu, só quando chegam quase aos 40 anos deixam de acreditar nessas afirmações e vão em frente; existem outras que nunca voltam a acreditar e vivem ad aeternum a fazer aquilo que não gostam; e existem outras que sempre acreditaram e que passaram a vida a concretizar sonhos. Porque será? Acredito que estas últimas foram as tiveram ao seu lado aquelas pessoas que lhes estimularam, desde tenra idade, a capacidade de sonhar – o músculo que chamo de “Concretizador de Sonhos”. Queres saber como podes criar esse músculo no teu filho?

Aqui ficam 5 dicas que te podem ajudar a desencadear um Concretizador de Sonhos:

1 – “ Tu és capaz!” – Para conquistar seja o que for é, antes de mais, preciso acreditar que é possível, por isso, verbalizar esta afirmação – Tu és capaz! – ao teu filho é o primeiro passo. No entanto, atenção que não é só o verbal que comunica. O que observo é que muitos pais até expressam isso mas depois não acreditam interiormente nesse facto. Isto leva a mensagem a ter o efeito oposto do pretendido. As crianças conseguem ler o não-dito (gestos, olhares, movimentos, …) de uma forma que nós, adultos, já nos esquecemos. Por isso, treina essa confiança em ti para que a passes ao teu filho de forma autêntica e eficaz.

2 – “ Que ideia fantástica! ” – Quantas vezes, sem querer, ridicularizamos as ideias dos nossos filhos?: “Que ideia tão estapafúrdia!”. Eu sei que é difícil mas observemos antes de reagir. A verdade é que estas desaprovações fazem com que ser criativo seja demasiado inconveniente e doloroso. E o ser criativo, o “sair da caixa”, é hoje uma das competências mais procuradas pelas grandes empresas. Os adolescentes são especialistas no fora da caixa, não mates essa qualidade. Resiste à impulsividade da crítica e incentiva a sua imaginação: “Que divertido!”.

3 – “ O que vais fazer para alcançar o teu sonho?” – Em vez de dizeres que “é muito difícil ser futebolista” cria a oportunidade de pensar em como ele vai lá chegar. Aproveita o seu sonho para trabalhares o foco, a persistência, a disciplina, a determinação – qualidades essenciais para materializar sonhos.

4 – “ O que podes fazer de diferente para a próxima vez? “ – Claro que vão existir momentos que as coisas não vão correr bem. Claro que vai errar. Mas em vez de “como pudeste falhar aquele golo?” e fazê-lo sentir um falhado, abre espaço para novas soluções: “o que podes de fazer diferente para a próxima?”. Quantos por medo de errar não seguem os seus sonhos?. O erro é essencial no processo de aprendizagem e no da concretização de sonhos. Honra os erros do teu filho!

5 – “ O meu sonho é…” – este é um ponto crucial. Educas por aquilo que és. Sonhar e falar sobre os teus sonhos – os passos que estás a dar, as dificuldades que tens, os erros que cometes, o trabalho necessário, as emoções que surgem, as metas que queres atingir, o desfrute do caminho – ao teu filho é o maior exemplo que podes dar.

O meu filho pode vir a ter outros sonhos mas nutrir este não é perder tempo é sim treinar o músculo – o tal músculo “Concretizador de Sonhos”. O meu filho também pode não conseguir vir a ser jogador de futebol mas eu não lhe vou tirar esse sonho só por medo da deceção que ele possa vir a ter. E a pergunta que se impõe neste caso nem é: “e se ele sofrer uma deceção?”. A verdadeira questão é: “e se ele sofrer uma deceção como vou gerir isso dentro de mim?”. Porque, na realidade, quem é que realmente temos de salvar da deceção?. A maioria das vezes é para nós que temos de olhar.

Vamos deixar que nossos filhos sejam apenas o que quiserem. Sonhem com o que quiserem. Desde pequenos. Sem nossas as críticas, sem os nossos preconceitos, sem nossas limitações. Neste novo mundo em que não há certezas de nada; em que o impermanente é o que de mais permanente existe; em que não existem roteiros que nos indicam como é que os nossos filhos podem ter uma vida feliz e bem-sucedida; em que os antigos mapas (os empregos para sempre/ o dinheiro dá felicidade) deixaram de fazer sentido, tonificar este músculo – o de Concretizador de Sonhos – é o papel mais importante que nós, pais, temos atualmente para que os nossos filhos encarem a vida de coração aberto.

Os meus olhos brilham quando sonho. Os olhos do meu filho brilham quando sonha. É isto. Até ao final, até mesmo ao finalzinho da nossa vida, não percamos esse brilho.

O que estás a fazer para que o brilho dos olhos do teu filho brilhem? E para que os teus brilhem?

Sabes porque fiz este artigo?

1º) Como “desbloqueadora do potencial de filhos” senti essa obrigação. É que às vezes o potencial das crianças está bem à vista e não se lhe dá o devido crédito porque se está demasiado condicionado pelo sistema. Sai do quadradinho!

2º) Porque vejo muitas mães e pais sem sonhos. Adolescentes sem sonhos. O mundo precisa de sonhadores. Não tenhas receio: o teu filho precisa que sonhes. Dá-te permissão para sonhares! Dá-lhe permissão para sonhar!

Existe uma alavanca que é necessária puxar para que tudo o resto se mova, para que os teus sonhos se concretizem. Se o teu filho te desafia, te irrita, te faz saltar a tampa, sabes qual é a alavanca que tens de mover para que tudo o resto flua e para que consigas concretizar os teus sonhos? Pois é.

Dá permissão ao teu filho para sonhar!

Se precisares de ajuda estou aqui.

Abraço cheio de sonhos concretizados da tua Coach Parental,

Carla Patrocínio