O meu bebé e os seus ensinamentos.
Foram 30 minutos para caminhar cerca de 50 metros. “Tão pouca distância em tanto tempo?!”, perguntam.
Hoje fui ver o mundo a partir dos seus olhos.
Simplesmente segui o meu Mestre. Decidi somente ir atrás dele. Observando… com ATENÇÃO…
Inicialmente, notei o meu impulso de querer apressá-lo. Não o fiz. Senti a ansiedade a chegar ao meu corpo. Comecei a pensar nos milhentos afazeres que tinha de realizar ao longo do dia. “Mas porque é que o modo “Fazer” nos invade constantemente ao ponto de não observarmos o que nos rodeia?”.
Optei por seguir o meu Mestre. Escolhi por simplesmente segui-lo na sua caminhada. Com o mínimo de interferências possíveis.
Vi como ficou radiante com a terra. Pegava num pedaço de terra e a seguir, a rir-se, vinha dar-ma como se de um presente do céu se tratasse. Um bocadinho de terra… Alguns grãos passavam no intervalo dos seus dedinhos e aterravam no chão. Ele ficava com um ar surpreendido e feliz. “Como é que um pedaço de terra pode trazer tanta felicidade? Quando é que parámos de usufruir e de valorizar estas coisas? “.
A seguir, decidiu fazer corta-mato. Pés na relva que, com a humidade da noite, ainda se encontrava molhada. Corria para trás e para a frente desenfreado. Por momentos, surgiu na minha mente a preocupação de que a sua roupa ficaria suja. Observei este pensamento e ri-me. Resisti ao impulso de o querer interromper na sua aventura de atenção plena.
Segui o meu Mestre.
Um barulho surgiu. Ficou alerta. Uma senhora, jardineira da Junta de Freguesia, estava a aspirar as folhas do jardim para que a via ficasse desimpedida para as caminhadas habituais. O aparelho fazia barulho. Começou a correr no seu sentido. A senhora sorriu para ele. Perguntou-lhe o nome. Ele não respondeu mas riu-se. Estava admirado com o som do aspirador. Com o efeito que provocava nas folhas. Elas voavam em direção à estrada.
A senhora desligou o aparelho e apresentou-se: “sou a Madalena, olá!”
A Madalena era simpática. Brincou com ele. Mostrou-lhe o aspirador. Enquanto comunicavam entre eles, observei a Madalena. Tinha um sorriso acolhedor, uma postura amigável e uma comunicação muito fofinha… Trocámos algumas palavras. A senhora do aspirador deixou de ser a senhora que limpava o jardim para ser a Madalena. Eu vi a Madalena! O meu Mestre…
Despedimo-nos.
Mas a volta não tinha acabado. O parque ainda tinha de ser reconhecido. O escorrega foi a tentação. Quis subir sozinho. Tive medo que caísse mas optei por Confiar. Observei a sua desenvoltura durante a subida e fiquei de boca aberta. “Mas ainda há pouco tempo não andavas?”
Escorregou. Observei o vento que lhe batia no seu rostinho, assim que descia do escorrega. “Mais”, dizia ele. Observei, simplesmente Observei.
Os meus filhos têm uma diferença de quase 10 anos. Isso leva-me a refletir sobre a diferença entre a Carla Mãe de hoje da Carla Mãe de há 10 anos. Faz-me tomar consciência de como estava ausente. De como, apesar de presente fisicamente, não estava verdadeiramente PRESENTE. De como não respeitava o seu ritmo. De como o meu medo, a minha ansiedade, condicionavam a minha presença autêntica. Hoje percebo: estava em Luta. Por uma vida perfeita.
Estava em Luta, vivia somente no futuro, e esquecia-me que se vive é: Aqui e Agora!
Hoje, mais uma vez, decidi sair do meu pedestal e colocar-me no lugar de Aprendiz. À disposição dos ensinamentos que este bebé tem para me transmitir.
E sabem quais foram?
Abranda Mãe. O teu ritmo não é o meu. Estou a descobrir o mundo! Tenho tantas coisas para conhecer! A flor amarelinha, a borboleta colorida, o cheiro da terra molhada, a textura da folha de outono, … Tenho tanto para observar, para cheirar, para tocar, para sentir, para saborear, para ouvir. Gosto de andar devagarinho, de mudar de direção, de me desafiar, de me aventurar. Só preciso de uma coisa: que estejas ao meu lado, que acompanhes o meu passo, que estejas realmente PRESENTE, neste “trail” que é a vida. Abranda Mãe.
Com o meu filho mais velho não consegui observar o mundo a partir dos seus olhos. Não tinha os recursos emocionais necessários para isso. Só sabia estar em luta. Já me culpei e já me perdoei. Hoje sei que fiz o melhor que podia mas também sei que há expressões, gestos, palavras suas que as fotografias e vídeos que fiz não conseguiram registar. Acho que é por isso que hoje em dia prefiro não fotografar, opto por simplesmente Observar, utilizando os meus 5 sentidos de forma plena.
E tu, estás disposta a Abrandar ou vais continuar a Lutar ?
Começa a programar um tempinho para estares realmente com o teu filho, para observares o mundo a partir dos seus olhos. Sem telemóveis, telefones, Ipads, …E enquanto isso, observa também os teus pensamentos, emoções, sensações físicas.
É que, aqui entre nós, estás a perder coisas espetaculares!
Abranda Mãe…
Se sentires que te posso ajudar, envia-me um email para carlapatrocinio33@gmail.com.
Um abraço apertado,
da tua Coach Parental, Carla Patrocínio
Preciso tanta de gente assim na minha vida, que me acompanhe nesta tarefa tão árdua de ser mãe…!
🙏❤️
Luta estenuante, luta que ninguém compreende a não ser que tenha um filho com phda…
Mas como não ajudar o seu filho no caminho arduo da escola e da vida e por e simplesmente deixa-lo ser…
Era bom, não se preocupar com as notas da escola e suas interações sociais..Um sonho…Mas a vida e a sociedade não dão esse espaço que lhe daria de bom agrado…
Olá Cristina, muito grata pelas suas palavras. Realmente a vida e a sociedade não dão espaço para que isso aconteça. A questão é que estão cada vez mais crianças em sofrimento, não só PHDA, e isso não pode mais deixar de ser visto. Eu acredito que a mudança começa em nós, pais. É importante curarmos as nossas feridas de forma a que mais importante que as notas e interações sociais seja desvendar o potencial criativo deste nosso mestre. Mas claro, confesso, que não é fácil, é um caminho de uma vida. Por isso, acredito, são nossos mestres. Um beijinho no seu coração.