“Estás a chorar porquê?”, “Não chores!”, “Estás triste por causa disso?”, “Não é preciso chorar!”, “Os homens não choram!”, “Isso que estás a sentir não tem razão de ser”…
Muitos de nós crescemos a ouvir estas frases. E assim, copiando o que ouvimos dos nossos pais, as verbalizamos aos nossos filhos. E desta forma as emoções mais contrativas são reprimidas e ficam na sombra. É como que um “engolir” e enterrar bem fundo. E o que acontece a seguir? Crescemos e, porque não achamos estes sentires naturais, tentamos escondê-los a todo o custo. E é então que para os anestesiarmos surgem os: vícios – as habituais fugas (comer demais, consumir demais, beber demais,…) – para não lidar com aquilo que aparece sem aviso prévio. O mais perverso é que isto não para por aqui. Não! Estas dificuldades e todas as consequências em “meter para dentro” vão-se perpetuando de geração em geração.
Não é fácil ver um filho a chorar. Não é fácil ver um filho triste. Não é fácil ver um filho em sofrimento. Não é fácil estar em silêncio e não fazer nada. Simplesmente estar. Presente.
Eu cresci a acreditar que estar triste, que chorar, era sinónimo de inferioridade, de fraqueza. Para mim o mundo não era um lugar seguro para expressar as minhas emoções. Hoje em dia, mesmo depois de muito trabalho de desenvolvimento pessoal, continua a ser (confesso) difícil.
Durante muitos anos fugi: desse sentir. Chegava a dizer orgulhosamente que não tinha paciência para estar triste. Que esse sentimento não fazia parte do meu ADN. Mas era mentira: coloquei uma máscara.
É doloroso ver que, por vezes, o meu filho mais velho também utiliza o mesmo disfarce. Porque sei quais são as consequências desse fingir: a dificuldade em dizer que não, a vergonha em assumir o que realmente se quer, o medo de expor o que sentimos, no final … a ignorância de quem somos.
Sim é isto! É isto que aquelas frases, aparentemente tão inofensivas, podem criar: o total desconhecimento do que sentimos e, por consequência, do que somos, do que gostamos, do que queremos.
Só depois de um “kamikase” ter arremessado a minha vida por completo é que fui obrigada a questionar-me: quem sou eu? o que realmente estou a sentir? como posso lidar com estas emoções que me provocam este sofrimento atroz?
E se tivesse sido ensinada a conhecer-me, enquanto criança? E se eu soubesse lidar com estas emoções, enquanto criança?
Quando o meu filho chora estar simplesmente sem fazer nada, estar só presente, atenta à necessidade que pode surgir, é um desafio. Existe uma parte de mim – a salvadora – que quer livrar o meu filho daquele sentir. Muitas vezes, no passado, mesmo tendo consciência que não era o mais construtivo, resvalava e assumia esse papel. Hoje em dia consigo fazer diferente; pelo menos já dou espaço para que essa emoção se expresse sem interferir. Mas pergunto-me: será que a mais poderosa forma de educar o meu filho nesse sentido – através do meu exemplo – está a ser realizada? A verdade é que já não fujo destas emoções mas … e conseguir expressá-la, a partir do coração? Hum… acho que ainda tenho um caminho longo a percorrer até chegar ai. Expor-me dessa forma, mostrar a minha vulnerabilidade, continua a ser um processo complicado.
Questiono-me muitas vezes: como o posso fazer?
Hoje dou um passo nesse sentido.
Ao refletir sobre as minhas intenções para 2017 decidi, como forma de “selá-las”, torná-las públicas.
Em 2017 tenho como intenção Sentir e Acolher todas as emoções. Com amor. Senti-las no meu corpo e observá-las com compaixão. Partilhá-las, sem vergonha, a partir do coração. Ter coragem de assumir o que quero e não quero sem medo do que os outros pensam. Não vou mentir: para mim isto não é fácil, é mesmo visceral. Custa, dói, mexe com as entranhas. Sinto-me insegura quando o faço. Mas o curioso é que tenho verificado que sempre que dou este passo algo em mim RENASCE. Sinto-me mais próxima da minha essência. Tenho 2 filhos rapazes e o que mais desejo é que possam chorar sem medos nem vergonhas. PORQUE OS HOMENS TAMBÉM CHORAM!
Este ano é o meu desejo para ti: que SINTAS todas as emoções.
Aceita TODAS sem culpa, medo ou vergonha. As tuas e as do teu filho. Resiste ao impulso de fugir ou de interferir quando vires o teu filho chorar, gritar, bater a porta. Dá-lhe espaço para que a tristeza, a raiva, … possam existir na sua vida. Quando me permiti (o) sentir todas as minhas emoções, sem fugas nem subterfúgios, algo em mim se libertou (a). Quando me permiti (o) partilhá-las com os outros algo em mim se transmutou (a). E os meus filhos ganharam (am) uma mãe mais autêntica e presente.
Continua a doer mas o que é um bálsamo para a minha alma é que eu já sei como lidar com essas emoções. Não as preciso de as afugentar, nem de as agarrar. Saber como lidar com estas emoções é urgente!
Como seria o mundo se todos pudessem sentir todas as emoções sem terem que encontrar fugas para as esconder? Se todos pudessem expressar aquilo que verdadeiramente sentem sem medo de ser julgados? Se todos soubessem como lidar com as suas emoções ?
Mostrar aos nossos filhos que a tristeza é tão natural como a alegria, que chorar é tão curador como rir, que verbalizar o que sentem não é sinónimo de fraqueza mas sim de respeito por si próprios pode prevenir uma série de problemas futuros. Mas para isto acontecer temos antes de tudo que nós, pais, saber como lidar com estas emoções.
Permites-te sentir todas as tuas emoções ou preferes fugir?
Uma das práticas que me ajudou neste propósito foi o Mindfulness. Neste sentido criei um desafio GRATUITO – 14 dias de mindfulness para mães de crianças agitadas, hiperativas, ansiosas – para iniciares o ano aceitando – todas – as emoções, as tuas e as do teu filho, com amor. Começa a 16 de Janeiro e vai até dia 29. Caso estejas interessada é só inscreveres-te no link que se segue:
https://carlapatrocinio.leadpages.co/14-dias-de-mindfulness-para-m-es-/
Se sentires que te posso ajudar, envia-me um email para carlapatrocinio33@gmail.com.
Um abraço apertado,
da tua Coach Parental, Carla Patrocínio