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Não! Eu não queria olhar para dentro de mim. Não tinha paciência para essas coisas profundas. Nem paciência, nem tempo. Era trabalhar para alcançar a vida de sonho que me tinham “prometido” e que traria a felicidade e ponto. Bastava e já dava muito trabalho.

E não é que estava a conseguir! Pelo menos, o dinheirinho, o ingrediente essencial para obter o cenário idílico estava a chegar. E claro, com isso vinha tudo aquilo que nos faz, pensava eu,  ser muito felizes: jantares, viagens, roupas e alguns vícios…

Um curso, uma casa, um marido. Tudo a correr na ordem prevista para alcançar a vida ideal que me transportaria para a tão prometida felicidade.

E depois, depois veio a cereja no topo do bolo. Um filho! Não foi planeado mas assim que soube que estava grávida desejei-o de coração. O meu primeiro filho. Sempre desejei ser mãe por isso, para mim, nem houve o tal choque inicial que normalmente sucede para quem não está à espera. Assim que vi os dois risquinhos no teste de gravidez, foi SIM! SIM! SIM! E claro, era mais um passo para atingir “the perfect life”!

E 9 meses mais tarde, ele nasceu. E era um bebé lindo! Tudo o que sempre desejara! Foi amor à primeira vista! Gordinho, fofinho, bonitinho. Não podia ser mais perfeito! (esta palavra, hoje em dia, até me dá comichão). Os primeiros tempos não foram fáceis como é óbvio mas nada de invulgar se passou para abalar a promessa do objetivo inicial. Era satisfazer as suas necessidades básicas (mudar-lhe a fralda, dar-lhe de comer, brincar um bocadinho) e estava feito. Mal sabia eu da importância dos primeiros 2 anos de vida…

Os problemas começaram aparecer exatamente nessa idade. Atraso na fala. É normal. Vamos esperar. Mas a situação prolongou-se até aos seus 3 anos, somando-se outras queixas à inicial: gaguez, agitação excessiva, impulsividade, dificuldade em seguir regras,…

Decidida e despachada como era, não podia perder muito tempo com esta situação. Estava a desfocar-me do que realmente era importante: alcançar a vida perfeita. Vamos então consultar os melhores especialistas e resolver este problema o mais rápido possível.

E foi assim que iniciei um longo percurso que me levaria a recorrer a várias especialidades médicas. Era o pediatra, o pediatra do desenvolvimento, o psicólogo, o otorrinolaringologista, o oftalmologista, a terapeuta da fala. Consultas atrás de consultas para fazer despistes e encontrar o problema: será que era autista? será que era hiperativo? será que tinha algum atraso cognitivo? Será que era surdo? Será que … Ele tinha que ter algum problema! Porque ele não estava a corresponder às minhas expectativas! (Ups…)

E com esta “lufa-lufa”, o caminho que me levaria ao sonho começou a ter curvas e contracurvas, muitas encruzilhadas e labirintos… até que me perdi. Aquela situação não estava a ser resolvida no tempo que tinha suposto. Aquela história estava a arrastar-se sem nenhuma solução à vista. Aquele desafio estava a provocar-me uma grande ansiedade, tristeza, angústia,… emoções com as quais não estava habituada a lidar e que as fugas habituais não estavam a conseguir apaziguar. E o meu filho parecia cada vez pior: mais ansioso, agitado, atrasado na fala,… E a nossa relação também cada vez deteriorava mais.

Que sofrimento atroz! Eu que sempre fui “a mulher da resolução rápida dos problemas” estava completamente de rastos.

Não podia continuar assim! Mais uma vez despachada como era, fui procurar ajuda para saber como me libertar deste sofrimento. Calmantes não me atraiam por isso decidi fazer algo diferente. Hipnose, por conselho de uma amiga. Fui a algumas consultas. As mesmas tinham a duração de duas horas. Na primeira hora falava sem parar sobre como achava aquela situação injusta. Na segunda hora estava sob hipnose. Na última sessão o que se passou abalou-me profundamente e não fui mais.

Transcrevo uma parte do meu diário que descreve o início do meu olhar para dentro:

Durante a consulta foram as várias as vezes que confessei à terapeuta “porque eu não aguento mais isto!”, “porque eu não tenho paciência!”, “porque eu não mereço isto!”, “mas porquê eu?”, …. No final, desesperada, quase que exigi uma resposta à terapeuta para resolver aquele sufoco. E a sua observação foi esta: “Já viu que esteve sempre a falar de si?, não é o seu filho que tem o problema?”. Caiu-me tudo! Foi como se de repente houvesse uma expansão abrupta da minha consciência. E percebi. Não era ele que precisava de ajuda, era Eu. Eu é que não estava aguentar a pressão. Eu é que não sabia lidar com aquela dor. Era Eu, era Eu que precisava de me Olhar.

Sai de lá e nunca mais voltei. Não estava preparada para mais. Mas foi nesse dia que  comecei a questionar quem precisaria de ajuda. Se eu ou se o meu filho.

Por isso, hoje deixo-te com esta pergunta para te ajudar a lidar com o teu filho:

Será que é o teu filho que precisa de mudar ou és tu que precisas de te Olhar? 

Se sentires que te posso ajudar, envia-me um mail para carlapatrocinio33@gmail.com.

Continuação da história no próximo post, fica atento ; )

Um abraço apertado,

Carla Patrocínio