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Estas últimas semanas não foram fáceis. Estive triste, muito triste. O meu filho teve uma atitude que mexeu bastante comigo. Não estava à espera. Várias emoções chegaram, sem bater à porta, e levaram-me a ter reações negativas para com ele. Que foram no sentido oposto às intenções da mãe que quero ser. Que foram mais fortes do que eu. Parecia que não eram minhas, que não me pertenciam. “De onde vieram estas emoções que me fizeram reagir tão impulsivamente com o meu filho? Que me fizeram desconectar dele? De onde veio esta dor? Mas porquê? Porque é que fiquei neste estado tão alterado?”, questionei-me.

ESCOLHI observar o que se passava dentro de mim.

Mergulhei. Doía. Respirei. E fui mais fundo. E dei espaço para todas as emoções se expressarem no meu corpo. O corpo é o que nos liga ao presente. É por aqui que a procura começa. Não fugi. Não reagi. Simplesmente Respirei e Observei. Veio a angústia, a injustiça, a tristeza, a revolta, a decepção… Doía. Senti tudo no meu corpo. Simplesmente Respirei, Observei e deixei-me guiar por elas, pelas emoções.

“Qual a razão de atitudes tão irracionais? Pareço uma criança!”.

E de repente: fez-se luz. Surgiu uma memória que me adentrou pelo corpo e me abalou o coração. Uma menina. Uma menina insegura, sensível e com medo. Uma menina que só queria ser aceite e amada mas que muitas vezes não sabia como o fazer e sentia não o ser. E o meu filho, através do seu comportamento, voltou a confrontar-me com essa menina.

E assim despertei. Não era a Carla adulta que estava naquele momento a relacionar-se com o seu filho. Não. Quem estava ali era aquela menina. A minha criança.

Há dores que não sabemos de onde vêm. Há feridas que não sabemos qual a sua origem. Às vezes nem sabemos que lá estão. Bem tentamos olhar para o lado, escondê-las bem fundo, apagá-las, … São os vícios, os afazeres, as metas.

Até que. Até que um dia chegam os nossos filhos que, com os seus desafios, nos fazem voltar a olhar para a nossa criança. Para as nossas feridas de infância. E assim, se estivermos ATENTOS, observamos que, ao contrário do que pensávamos, essas feridas não estão cicatrizadas, estão bem abertas, a necessitarem de ser olhadas e cuidadas.

Todos temos dentro de nós a criança que fomos um dia. A nossa criança interior.

E naquele momento em que me zanguei com o meu filho, naquele preciso momento que fiquei fora de mim, a Carla adulta tinha desaparecido, e naquela sala, estavam presentes apenas duas crianças: a minha e a dele.  Duas crianças que simplesmente, e apesar do seu comportamento mostrar o contrário, só queriam ser aceites, respeitadas e amadas.

“O que faria a adulta nesse momento? Tinha gritado?”, indaguei-me.

NÃO.

Na verdade, muitas das nossas atitudes, ações e reações para com os nossos filhos são largamente influenciadas por essa criança que fomos e que por vezes zangada, revoltada e ferida simplesmente reage. E, apesar de muitas dessas situações terem sido resolvidas racionalmente, as emoções que sentimos nessas situações continuam a existir dentro de nós e só quando estas são olhadas, aceites e cuidadas deixam de condicionar o nosso comportamento para com os nossos filhos. Sabem aquelas birras que também nós, adultos, muitas vezes temos com os nossos filhos? Aquelas birras que, a seguir ao momento do transbordo emocional acontecer, até achamos que foram algo desporpocionadas, irracionais, infantis? Quem acham que está presente nesses momentos?

Podia ser por estar cansada, podia ser a minha “controladora” a querer ver a sua necessidade de segurança preenchida, podia ser por outros motivos mas … para ter aquela reação, para sentir aquela dor, estes motivos não bastavam. Havia algo mais. A minha criança necessitava de ser ouvida, abraçada, olhada, amada. E foi o que fiz. E é o que vou continuar a fazer.

E tu, quando reages impulsivamente e ficas fora de ti com o teu filho, quem está presente nesse momento: o teu adulto ou a tua criança interior?

Observa.

É tempo. É tempo de olhar para essa criança. Há quanto tempo não falas com ela? Dá-lhe atenção. Escuta-a. Ela precisa do teu abraço.

Estas últimas semanas foram complicadas neste caminho que é a Parentalidade Consciente mas hoje, ao reler este texto, lembrei-me que esta jornada não termina nunca (é feita diariamente, com muito amor e compaixão por todos os envolvidos), e que estes aparentes retrocessos é que me fazem ir descascando cada vez mais e mais camadas. Desta forma, vou-me conhecendo mais e mais, amando-me mais e mais. Grata meu mestre!

Se sentires que te posso ajudar, envia-me um email para carlapatrocinio33@gmail.com.

Um abraço apertado,

da tua Coach Parental, Carla Patrocínio